Não vi nem ouvi mas alguém credível disse-me que Pacheco Pereira qualificou a «magreza» do Primeiro Ministro como uma «metáfora» da austeridade a que o governo socialista nos condenou.
Ele lá sabe.
Mas é curioso que também eu tenho pensado que o próprio Pacheco Pereira há muito me parece uma «metáfora».
Desde logo, aquela «opulência física» com que se apresenta, confronta-me com uma «metáfora» da vida bem vivida, de habilidade manhosa para multiplicar riqueza e acumular dinheiro, de uma ilimitada ambição de poder, de um modo de vida onde os excessos de gorduras sebácias e o tamanho da barriga são óbvios sinais de formosura.
Neste aspecto, Pacheco Pereira é uma «metáfora» do crescente aprofundamento do abismo entre os pobres e os ricos, uma «metáfora» de que a crise está a servir para aumentar a míngua dos mais pobres e aumentar, ainda mais, a fortuna dos mais ricos.
Depois, há aquela clássica arrogância do filósofo-comentador que o transplanta para os jardins esplendorosos de um mundo deusificado, etéreo, extravagante mas exclusivo, onde as pedras da calçada apenas se deixam pisar pelas aparências, pelo «saber» especulativo e sofístico que jamais chega a lado algum do mundo real dos simplesmente mortais.
Ainda assim, Pacheco Pereira sempre me pareceu a «metáfora» do saber, da lógica, da retórica estruturada dos que sabem, melhor do que ninguém, viver do marketing, da imagem, das aparências, do vazio e sem substância, da eficácia da ousadia temerária.
Pacheco Pereira sempre me pareceu uma «metáfora» do pensamento crítico, uma «metáfora» das «inutilidades públicas» que Francisco Sá Carneiro tanto desprezava.
Mas Pacheco Pereira, o «desencantado» ou «o vingador» das frustrações ideológicas, revelou-se me a «metáfora» mais bem elaborada quando aderiu ao PSD e rapidamente aí trepou a figura de primeiro plano.
Ele era, e ainda é culturalmente, um comunista maoista, o radical ideológo da Revolução Cultural de Mao Tsé-tung em Portugal, mas soube aderir à «política de abertura» expandida por Deng Xiaoping, e de tal forma o fez que acabou por alcançar as posições de poder e influência, da maior relevância, no seio da social democracia de centro esquerda e liberal, esvaziando, quase completamente, a história, os métodos e a cultura de raiz popular e rural do PSD e esmagando o ânimo e a vontade de acção, a força das convicções dos históricos militantes que fizeram do PPD o maior e mais activo partido nacional, sociologicamente um partido de povo e do poder do povo.
Pacheco Pereira foi a «metáfora» portuguesa da «abertura» de Deng – o comunista pró chinês que continua a pensar como comunista mas que, por mera conveniência das circunstâncias práticas, pela direcção da história, «evoluiu» para o liberalismo político … mas sem beliscar a «alma» intolerante e totalitária do eterno comunista maoista.
Pacheco Pereira é uma «metáfora» de Tiananmen … que quase esmagou o PSD!
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