Como tudo é tão diferente!
Tenho visto o Congresso do PSD pelas TV’s e o que se vê é tudo ao molho numa sala apertada, sem luzes nem brilho, meia dúzia de bandeiras já delidas pelo tempo e pelo uso, um palco ínfimo que nem dava para o ballet do Tony Carreira, uns tipos sentados e muitos outros em pé e sempre a circular, sempre em andamento, às voltas de fila em fila e de corredor em corredor, todos a falar para toda a gente e cada um a dizer o que lhe vem à cabeça, e só falam em festa mas uns batem palmas a alguns e outros nem aquecem as mãos, discutem freguesias e municípos, programa de governo, austeridade e esperança no futuro ... uns pobretanas aqueles sociais democratas!
E aquela pobre gente, que veio de todo o lado, nem teve o cuidado de se preparar para discutir, nesta simplória reuniãozeca, a matéria «mais importante», eu diria mesmo a única «coisa» de jeito que os trouxe ali: a questão Teixeira dos Santos!
O que é que se vê nos congressos do PS?
Gente fina, amplas salas e reservados de luxo para os mais sacrificados, palcos maiores que estádios de futebol, holofotes e shows de raio lazer, écrans do tamanho do mundo, tudo digital e equipamentos sem fim, com potentes câmaras de TV e cinema e aparelhagens sonoras tipo último grito tecnológico, todos a glorificar os grandiosos projectos e a enaltecer a glória da vida e a desejar eterna felicidade ao líder, todos juntos, em largas e bem batidas ovações ao som de épicos hinos ... grandiosos espectáculos, realizações de arte televisiva sem paralelo, aqueles congressos do PS!
E, atenção à organização: nada de «paleios» sobre Manueis Alegres nem de Carrilhos ... que percebem nada de espectáculo!
E quanto aos congressos do PC, essas «coisas» raras, para só de vez em quando?
Aquilo sim, vale a pena ver-se: a ordem, a disciplina, tudo sentado, lápis na mão e caderno à vista, feições carregadas de concentração intelectual, só se ouvem palavras simpáticas e urbanas como luta, ladrão, roubo, ocupações, agressão, imperialismo e reacção, piquetes e capitalismo; e cumpre-se sempre, com rigor de igreja, um silêncio de túmulo, quando alguém ilustre fala ao microfone até que um coro enorme de palmas, enérgicos refrãos e empolgantes cantorias marque o final, em apoteose, de cada palestra.
E aquela arte de responder ao maestro, todos alinhados e tudo afinado, com aqueles poderosos murros no ar com o punho direito fechado, tudo perfeito, tudo sincopato de tal ordem que nem as tropas de élite de Hitler ou Estanine lhes chegavam aos calcanhares, nas suas espectaculares marchas militares!
E aquela energia, discreta, com que se anuncia a iminente «queda» do governo ... embora com menos sonoridade não vá a «reacção capitalista aproveitar-se e, maldosamente, pôr-se aí a especular e confundir a «queda» do governo com a «queda» do muro de Berlim – que é tudo mentira, não caiu muro nenhum!
Enfim, há por aí também outras pobres reuniões, que nem sei bem se se chamam congressos.
Mas eles, os do Bloco de Esquerda, lá se encontram todos em pequenos cubículos, coitados.
Pelo que se vê comem e bebem bem, fumam arómáticas tochas e também fala muito, de guerras longínquas e «porrada na polícia».
Só é pena não andarem muito bem de saúde ... tomam muitas injecções, deixam as casas de banho cheias de seringas, coitados!
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