O estranho nisto tudo, nesta conjuntura política como agora se diz, é que ninguém parece saber com quem está a lidar quando leva a sério, ouve e responde ao PC, na rua, nos jornais e na TV, na Assembleia da República, nas reuniões de concertação social, sempre e em todo o lado.
O PC tem um programa político, aplicável em qualquer parte do planeta.
Os comunistas preconizam a dissolução da União Europeia do mesmo modo que combateram a CEE.
Lutam pela extinção da NATO.
São contra eleições gerais e o voto popular livre, universal e secreto porque entendem que povo não atingiu ainda o estado de consciência política suficiente para se confrontar com a classe operária.
O PC é contra o sistema de partidos – a classe operária está organizada no partido único, o Partido, que se confunde com o Estado, e todos os outros partidos seriam dissolvidos, com excepção, talvez, de alguns apêndices à direita, como os Verdes ou, à esquerda, como determinadas facções úteis e colaborantes do Bloco de Esquerda.
É óbvio que não aceitam a existência de um presidente da República eleito livremente por todos os cidadãos, porque é à classe operária, organizada no Partido, que compete representar o Estado através de um seu mandatado.
O PC jamais aceitará a existência de uma assembleia parlamentar, pluralista e com poderes legislativos, porque essa função do Estado está reservada à élite do povo, a classe operária, reunida no comité central do Partido.
O PC é contra a liberdade individual e a iniciativa privada porque estas são os pilares do capitalismo e o sustento da burguesia.
O homem será livre, apenas e só, para cumprir as decisões do colectivo, da direcção do Partido, que criará forças policiais omnipresentes com competência e recursos operacionais para regular e controlar toda a vida em sociedade.
As artes, como a literatura, o teatro e o cinema, a música, as artes plásticas e a fotografia, são instrumentos do Partido, são financiadas pelo Estado e só se justificam se estiverem ao serviço dos superiores interesses da propaganda do Estado e do desenvolvimento da revolução, designadamente da formação da consciência colectiva, política e revolucionária.
O pluralismo na comunicação social e todos as outras formas de livre expressão do pensamento, como conferências, colóquios e prédicas de natureza religiosa ou outras, têm de ser proibidas porque são meios de corrupção intelectual e degradação da pureza revolucionária impulsionada pela classe operária, isto é pelo Estado, ou melhor, pelo Partido.
O PC acabaria com todos os sindicatos e comissões de trabalhadores, porque os trabalhadores que não são intervenientes reconhecidos e activos mas meros aderentes à dinâmica da direcção do Estado imposta pela superior classe revolucionária, a classe operária.
Todo o sindicalismo, incluindo as comissões de trabalhadores, seriam substituidas por comissões administrativas agregadas numa única Central, nomeadas pelo Partido, a única instituição que garante a superior forma de organização da classe operária.
Os comunistas defendem a nacionalização total da economia e não se conformam com a existência de bancos, propriedades agrícolas e todas as outras empresas privadas que são meros instrumentos de exploração dos trabalhadores pelo capital e de apropriação das mais valias do trabalho.
Para os comunistas, é pura perda de tempo estas discussões entre partidos sobre projectos de crescimento económico e legislação do trabalho porque o instrumento único do funcionamento da economia é um Plano, apresentado por uma comissão do comité central do Partido, e de preferência quinquenal e, aos trabalhadores, só compete cumprir com zelo e sem discussões, os objectivos da produção nele determinados.
Ora, o nosso mundo, o da democracia, é totalmente diferente e, mesmo, antagónico.
Por isso, qual o interesse em levar a sério e responder aos comunistas?
Porque não mostrar-lhes, sempre, as nossas diferenças e, apenas, deixá-los falar… sem perdas de tempo?
… Pois, se eles ainda por cima, são ordinários, insultuosos e mal educados … ?
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