Hoje vi advogados na rua, devidamente togados, a berrar
às ordens da Ordem dos Advogados que, desde há alguns anos, vem mostrando uma
tendência irreversível para se transformar em sindicato.
Os advogados foram trazidos para a litigância da Rua e
reclamaram, com toda a energia e elegância, contra a independência da profissão
e a ética profissional.
Estes causídicos, pelos vistos, exigem a proletarização
da profissão, um horário de trabalho com férias, folgas e feriados devidamente remunerados,
um patrão e uma tabela salarial ajustada às suas responsabilidades.
Os advogados não vieram para a rua sozinhos.
Não trouxeram clientes mas misturaram-se com funcionários
judiciais e presidentes de junta de freguesia para, todos juntos, formarem um
conjunto harmonioso de pretensões e condições.
Ontem, a rua foi enchida por médicos e enfermeiros que,
de bata branca e estetoscópio ao pescoço, berravam na rua exigindo a
proletarização da profissão e reclamando mais salário e outras dignidades.
Eles também não trouxeram consigo clientes mas preferiram
misturar-se com alguns cidadãos que, reivindicando o estatuto de doente exibiam,
no entanto e para regalo nosso, cores de excelente saúde e superior energia, típicas
do bom trato, boa nutrição e boa bebida que sempre mostram na rua os enérgicos
defensores dos trabalhadores representados na Intersindical-CGTP de Arménio Carlos
e outros comunistas.
É, assim, a pobre condição dos nossos profissionais
liberais, a quem a lei quis dar dignidade profissional e social, independência
funcional e autonomia na organização da ética e carreira profissional, mas
injustamente porque o que eles também querem é um salário e um patrão.
Enfim, é a vida … dura e ingrata dos nossos advogados,
médicos e enfermeiros que se juntam agora, muito adequadamente, àqueles
polícias, guardas e inspectores que, confundidos
em bandoleiros embriagados, quiseram há pouco tempo assaltar a Casa da
Democracia em Portugal.
Já só falta ver uma manifestação de rua de juízes, com os
conselheiros do Tribunal Constitucional à cabeça, a reclamar contra a lentidão
da Justiça!
Ou os ministros e secretários de Estado, todos juntos,
numa manifestação na Rua de S. Bento, com concentração na Basílica da Estrela, a
exigir a Deus que ponha juízo na cabeça daqueles médicos, enfermeiros e
advogados que insistem em dar cabo de três profissões que, noutros tempos,
ocuparam o topo da consideração de dignidade profissional e científica e do
prestígio social.