Mas nenhum comentarista tem respondido à questão actual: depois de Cavaco Silva ter dito o que disse … nada acontece? Tudo como antes?
Ora, vejamos o que o Presidente da República parece ter querido dizer:
O governo, globalmente considerado e enquanto responsável pela definição, condução e execução da política nacional, mantém Portugal na cauda da Europa, agravando e consolidando o nosso atraso económico, social e cultural na União Europeia – o governo falhou e todos os indicadores apontam para o agravamento da situação;
No plano económico, Portugal subsiste como que «por inércia», com fracos e precários níveis de crescimento, o que parece indicar ausência de estímulos e incapacidade de reformar a estrutura produtiva, acentuando-se a tendência para o encerramento de empresas – o governo falhou e tudo indica ser incapaz de conter a grave situação, pelo menos, nos níveis actuais;
Agravam-se perigosamente os níveis de iletracia com o aumento exponencial do abandono escolar enquanto do ministério da educação se continua a ouvir anúncios de medidas paliativas de experiência não executáveis, prepotência sobre ideias críticas ou bagatelas inúteis e da cariz meramente pessoal ou de natureza partidária, ingerência abusiva e primária na gestão do sistema, criação de um clima de descrédito dos professores e divisão e desconfiança entre si, desmotivação dos docentes, fomento da ideia de impunidade e facilitismo entre os alunos, encerramento de escolas, persistente incapacidade de dotar as escolas de instrumentos de aprendizagem e adaptação aos tempos que se vivem – o governo falhou no sistema educativo e mostra-se incapaz de mudar e de estabilizar o sistema educativo;
Não se pressente qualquer orientação ou tendência para definição de um modelo de desenvolvimento global do país de modo a tornar possível a criação de emprego e melhoria das condições de vida da população, complementado com um plano de suporte social dos mais fracos, os idosos, doentes e os mais isolados, tendo a pobreza aumentado e os excluído ficado cada vez mais excluídos – o governo falhou e mostra-se incapaz, sequer, de perceber esta triste realidade;
Não há investigação nem estímulos à modernização, nem sequer a indução da necessidade de evoluir, generalizando-se a estagnação da indústria, comércio e serviços, de grande, média ou pequena dimensão, onde se revela já preocupante conformismo perante a degradação e incapacidade de se reestruturar de modo a competir num mercado, exigente em qualidade, livre e competitivo em que se vive – o governo falhou não tendo introduzido e iniciado as reformas no sistema educativo e da formação, designadamente nas vias profissionalizantes e no sistema de formação profissional, adequadas à mudança, sequer a médio prazo;
O País real foi abandonado, encerrando-se escolas, serviços de assistência social, designadamente médica e, entre outros, tribunais, registando-se simultaneamente, por parte do poder central uma actuação indisfarçável com vista à paralisação, por falta de financiamentos e imposições espúrias, das regiões e dos concelhos, e o simultâneo desenvolvimento de perseguições sem precedentes aos representantes das populações – o governo falhou e tudo indica que vai continuar esta saga de desertificação, de esgotamento de território, potencialidades e pessoas, de humilhação nacional.
Quantas gerações vai custar tudo isto?
Ninguém, em Portugal, espera de Cavaco Silva mais do que as suas competências lhe permitem. Mas há uma coisa que ninguém espera: que fale por falar … sem consequências.
O Presidente da República tem competências sobre o executivo. Ele pode demitir e nomear … e certamente o PS, enquanto partido maioritário, se convidado, talvez possa mostrar que tem melhor.
Como dizem os brasileiros, «ajoelhou, tem de rezar».
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