Era outro o Prof. Cavaco Silva dos tempos em que determinava o sentido do futuro.
Com ele não havia dúvidas, meios termos nem interpretações dúbias.
Dizia exactamente o que queria dizer e mais nada.
E quando algum jornalista mais afoito se atrevia a empurrá-lo para os terrenos de domínio dos adversários era certo e sabido que, quando muito, a reacção que recebia era a repetição seca e dura da mensagem que Cavaco Silva decidira para o momento.
No limite, chegou mesmo a usar o truque do bolo que lhe enchia a boca e trancava a palavra – e assim liquidava de vez as tentações de o levar para matérias de interesse alheio.
Não era fácil dizer-se que «respondia» a quem quer que fosse e tornava-se mesmo deplorável a frustração dos clássicos estrategas de «agendas» políticas e mediáticas.
Quando muito, a única «coisa» que se conseguia era a vaga afirmação escrita ou dita de que «… a propósito, Cavaco Siva não reagiu nem respondeu».
E toda a gente percebia que Cavaco Silva não perdia tempo com banalidades ou vulgaridades desprezíveis nem dava um mínimo de atenção a inutilidades, por muito bem empalhadas em prosápias rimadas que elas viessem.
Nesses tempos, Cavaco Silva não era desafiável – ele é que desafiava e ele é que marcava o seu tempo e o seu ritmo.
Ouve-se hoje, com preocupante insistência, que Cavaco Silva «reagindo a Manuel Alegre disse que … ».
É claro que, ouvindo-se da sua própria voz, percebe-se que ele nem «reagiu» e, muito menos «respondeu».
Mas a forma como agora o faz deixa no ar a posssível interpretação insinuante ou insidiosa de que «reagiu» e «respondeu».
E os jornalistas e «comentaristas» não perdem a oportunidade nem se eximem ao esforço de pôr Manuel Alegre no centro das atenções e Cavaco Silva nas bordas da agenda a «reagir» e a «responder».
Nada disto é importante e, menos ainda, decisivo.
Mas, de cada vez que anda por aí, talvez Cavaco Silva não perdesse nada em abastecer-se de «Bolo Rei» para encher a boca logo depois de falar o que quer e de dizer o decidiu dizer.
É que, se os tempos mudaram, nada mais mudou.
E homem prevenido … ou acha que é capaz de fechar a boca ou enche mesmo a boca!
… Para evitar comparações artificiais, por muito incomparáveis que elas sejam!