Um rebuliço do tamanho de uma revolução foi levantado quando Manuela Ferreira Leite antecipou, em tempos, que as políticas do governo de Sócrates iriam conduzir a graves dificuldades na actividade do Estado. E disse até, em tom irónico, que os previsíveis bloqueios iriam exigir sacrifícios enormes «a não ser que queiram suspender a democracia».
Toda a gente deturpou e chamaram todos os nomes à antiga líder do PSD.
Passados escassos meses, o primeiro ministro e o novo presidente do PSD decidem alterar o Orçamento do Estado, introduzindo-lhe uma nova política fiscal, nova política de Segurança Social, diferente política de gestão da administração pública, novos planos de investimento público, nova planificação de redução do défice orçamental, diferente política de estímulo do crescimento económico.
E tudo isto por telefone e duas ou três breves reuniões a dois.
À Assembleia da República coube o nobre papel de ir lendo os jornais.
Ontem, o Presidente da República anunciou a promulgação de uma lei de que discorda profundamente, por razões práticas.
Cavaco Silva não quis que a questão voltasse a ser debatida na Assembleia da República.
Dir-se-á que Sócrates e Pedro Passos Coelho acharam melhor que o telefone substituisse o parlamento que, no âmbito das suas competências constitucionais, deveria, talvez, negociar tudo o que há a negociar e discutir e votar um orçamento rectificativo e respectiva legislação regulamentar.
O Presidente da República promulgou só para obviar e tornear o exercício das competências da Assembleia da República – se já sabia o que é que a Assembleia da República iria deliberar porquê pôr os deputados a discutir, não é?!
Se é assim, se tudo se passa fora ou ao lado do parlamento e usando-se mecanismos legislativos «manhosos», estará já «a democracia suspensa» e ninguém se importa com isso?
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