O dr. Mário Soares anda eufórico com a crise e a aparente instabilidade social.
Todos os dias reclama a demissão do governo só porque vê manifestantes na rua a exigir o mesmo.
É duvidoso que haja sinceridade no que o dr. Mário Soares diz.
Aparentemente terá regressado aos velhos tempos em que os filhos da alta burguesia, «endinheirada» e com tentações aristocráticas, protegidos por «reconfortantes mesadas», circulavam por inúmeras tertúlias, com reserva do direito de admissão, protestanto a sua convicta fidelidade aos princípios do leninismo, espalhados pelo mundo por um enorme vento de leste.
Talvez como então, a imaginação febril do dr. Mário Soares levava-o a julgar que o povo seria uma massa anónima incapaz de pensar e, muito menos de julgar e decidir, deixando-se usurpar e dirigir por uma élite operária, intelectual e sindicalista, essa sim, dotada por direito próprio de legimidade natural e apta a constituir a «ditadura do proletariado» e tomar para si a direcção política das nações e dos povos.
Qualquer pequena manifestação dessa élite era a «representação do povo» que ali estava e seria estultícia pensar em consultar a população toda, só porque a população toda era ignorante, incapaz de se governar e nem sequer sabia o que queria.
O dr. Mário Soares sempre foi um homem arrogante e caprichoso e um político ideologicamente inconsistente, volúvel e tecnicamente incompetente.
Sempre seguiu «alguém» e muito pouco se lhe conhece de ideias próprias e convicções permanentes e estáveis.
Era um defensor intransigente da «maioria de esquerda» e uma aliança com o PC até os socialistas franceses romperem a coligação com os comunistas e Miterrand se ter «zangado» com Marchais.
Foi um dos grandes propagandistas dos interesses da Alemanha quando os seus financiadores do SPD, em especial Willy Brand, estavam no poder e tornou-se um agente activo dos interesses americanos e dos maiores capitalistas, alemães, francesses, italianos e ingleses jamais recusando deles os financiamentos oportunos e necessários ao funcionamento do seu partido.
Evitando análises exaustivas e necessariamente longas, avanço para tempos mais próximos em que, caida a máscara de «simpatia» e a imagem de «uma espécie de avô bonacheirão», emergente do aproveitamento propagandístico da alcunha «bochechas», que nada tinha de carinhoso, o dr. Mário Soares tornou-se o político mais odiado e desacreditado de Portugal, oscilando os epítetos populares entre o «aldrabão compulsivo» e o «troca-tintas engraçado» .
O PC nunca lhe perdoou a ruptura com Álvaro Cunhal e a traição de se virar para o capitalismo e imperialismo; o PSD não esquece todas as manobras de contra-informação e insinuações maldosas de natureza pessoal e política que espalhou contra Francisco Sá Carneiro, interna e externamente; os «retornados» desprezavam a displicência com que abandonou as antigas colónias aos interesses estrangeiros; o povo percebeu que a sua inconsistência política tanto conduzia o País para os duros tempos das intervenções do FMI como a sua «demagogia palavrosa e ôca» espalhava a fome e a miséria, em particular nos meios mais desprotegidos.
O dr. Mário Soares teve inúmeras mostras desses ódio e desconsideração generalizadas.
Era perseguido por grupos armados de bandeiras negras que reclamavam «pão» e, para onde quer que se deslocasse, grupos coléricos e mostrando forte agressividade, recebiam-no com insutos, pedradas e impropérios chegando mesmo a ser agredido fisicamente por manifestantes.
E as «coisas» eram tão sérias que o dr. Mário Soares foi forçado a medidas excepcionais de segurança pessoal.
Não «comprou um cão» como agora diz que o Presidente da República e os governantes devem fazer mas comprou e mandou transformar em autênticas fortalezas circulantes, dois automóveis de marca BMW, de alta potência, totalmente blidados com pesadas chapas de aço e vidros invulneráveis a disparos de armas de grande calibre, equipados com a mais sofisticada tecnologia de comunicações, dispersão de manifestações e garantia de condições de vida interna autónoma, como emissões de oxigénio, abastecimentos de água e kits de assistência médica e medicamentosa para situações de emergência, designadamente atentados à vida e intgeridade física.
Curiosamente, nunca chegou a viajar nessas fortalezas porque, entretanto, perdeu as eleições e foi substituido por Cavaco Silva que acabou por receber as «prendas» e, muito a custo, conseguiu negociar a devolução de um delas.
E tudo isto, além dos reforços do corpo pessoal de segurança com a chamada «polícia de choque» que o acompanhava sempre, não sendo raras as vezes em que teve de intervir.
E, afinal, tudo isto quando, sabe-se agora, bastava-lhe ter comprado e nós pagarmos com todo o gosto, um «pit bull» ou, mais adequado à sua personalidade , um irrevente «caniche» …
Enfim, o dr. Mário Soares está igual a si próprio, vê-se agora na idade e acha que chegou o seu momento da vingança: de Álvaro Cunhal, de Ramalho Eanes que o derrotou em eleições e despediu de primeiro ministro, e até, que esmagou o seu PS e a sua áurea ao criar o PRD, de Maria de Lurdes Pintasilgo, de Salgado Zenha, de Sá Carneiro que o derrotou, de Cavaco Silva que rebentou com o PS e o desmascarou, de Guterres e do PS que o mandaram para o exílio em Nafarros, da União Soviética, dos americanos, de Craxi que se deixou ir abaixo e acabou a mostrar «o melhor» da corrupção socialista e de Berlusconi que não o aceitou como parceiro de negócios no sector da comunicação social, do Mundo que não parou e do povo português … que o odiou e humilhou, que o renegou e ridicularizou, que o abandonou!
Ah! É verdade: e está também a vingar-se do dr. Pedro Passos Coelho que cortou nos apoios financeiros à Fundação Mário Soares!
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