Não é inédita esta tentativa de travar o progresso de todos nós usando a
TAP.
Noutras tentativas, o governo de então mostrou como, na luta incessante
pela autoridade do Estado e pelo superior interesse nacional, se justifica o
uso de todos os instrumentos disponíveis e a aplicação de todos os meios
coercivos que o Estado tem à sua disposição.
Nada mais simples: militarizar os trabalhadores da TAP e despedir, pelo
menos, cerca de 200 trabalhadores da TAP com invocação de que estão a
prejudicar, não «o processo de descolonização da Guiné» mas o processo de
reconstrução económica do País e o reencontro dos portugueses por ocasião do
Natal e Fim de Ano.
Foi assim que os comunistas do PC resolveram uma ameaça antipatriótica quando
estavam no governo, em 1974 e 1975.
O Primeiro Ministro desse tempo era o comunista de má memória, Vasco
Gonçalves; Álvaro Cunhal, líder do PC, era ministro sem pasta; o ministro do
Trabalho era o comunista Costa Martins, o tal que pôs os portugueses a
trabalhar de borla não se sabendo ainda hoje para onde ou para quem é que terá
ido o dinheiro desse dia de trabalho de borla; o secretário de Estado do
Trabalho era o comunista Carlos Carvalhas, o tal que, sucessor de Álvaro
Cunhal, chegou a secretário-geral, isto é, ao mais alto cargo no PC.
Um dia de 1974, trabalhadores da TAP paralisaram o trabalho e, em plenário,
elegeram um secretariado com competência para agir em situação de emergência.
A reacção do governo comunista e do PC foi imediata e fatal.
Começaram imediatamente as pressões no sentido de demover os trabalhadores
da greve.
O ministro de Trabalho, Costa Martins (PC) visitou, no mesmo dia em que
começou a paralisação, as instalações da TAP no aeroporto da Portela.
Entre outros, acompanhavam o ministro do Trabalho o sindicalista comunista
Daniel Cabrita, da Intersindical, hoje a CGTP de Arménio Carlos, e o futuro
sucessor de Álvaro Cunhal no mais alto cargo da direcção do PC, Carlos Carvalhas.
Publicamente, o ministro comunista Costa Martins ameaçou os trabalhadores
em greve avisando-os contra «as consequências políticas da greve, na situação particular em que o país vive», e chamando-lhes a atenção para o «carácter
extra-sindical da greve».
Na comunicação social, toda controlada pelo PC, espalha-se o boato de que a ligação Lisboa-Bissau não estaria a funcionar,
pondo em dificuldade o processo de descolonização.
Na madrugada do dia seguinte à visita do ministro comunista, tropas do
COPCON ocuparam o aeroporto de Lisboa.
Um comunicado informou, publica e profusamente os trabalhadores grevistas,
que esta «força de choque do COPCON, completamente armada em moldes de entrar
em combate imediato, era composta por uma companhia completa de comandos; uma
companhia completa de paraquedistas equipados de camuflado, cada militar com
quatro cartucheiras, faca de mato, e armados de metralhadoras G-3 e G-3 calibre
7.62 de coronha retráctil; cinco carros de combate chaimites com os ninhos de
metralhadoras virados para os trabalhadores e cães polícia.
Dois dias após o início da greve, o ministro do Trabalho e
o comandante do COPCON, Otelo Saraiva de Carvalho, anunciaram aos trabalhadores
grevistas que o pessoal da TAP era enquadrado militarmente, ficando sujeito ao
Regulamento de Disciplina Militar.
A célula do PC na TAP, referindo-se aos outros comunistas hoje o Bloco de Esquerda,
emite um comunicado em que denuncia a actividade
na greve da TAP de «esquerdistas e aventureiros que estão objectivamente a
fazer o jogo das forças mais reacionárias».
O Partido Comunista também emite um comunicado em que convoca «ao fim da greve, ao repúdio de novas aventuras e tentativas
de provocação, e à rápida normalização da situação na TAP».
Em Setembro uma assembleia de trabalhadores decide uma paralisação total a
partir das zero horas de 24 «se não for dada resposta ao caderno reivindicativo
e retiradas as forças militares do aeroporto».
A repressão amplia-se.
O destacamento militar que guarda o aeroporto é reforçado em resposta à ameaça de greve.
Sete trabalhadores são chamados a depôr para averiguações pelas
autoridades militares.
São despedidos 200 trabalhadores, todos das oficinas mecânicas, ao abrigo
do Regimento de Disciplina Militar.
Esta foi a solução do governo comunista para acabar greve da TAP.
Uma solução que foi uma lição, intemporal porque o dever de defesa dos
interesses do Estado é permanente e intemporal – é o que está em causa, hoje, com
a sabotagem da TAP.