Manuela Ferreira
Leite nasceu rica e despreza muito solenemente gente que viva em
apartamentos T2, em particular da Amadora.
Na sua vida só se enganou uma vez: quando se filiou no PSD.
Pensava a madame que o partido era uma agremiação de
burgueses ricos e aristocratas ainda não falidos, uma espécie de clube de
meninas finas com reserva do direito de admissão, uma tertúlia de «gente bem»,
muito bem apessoada e melhor instalada em luxuosas vivendas ou enormes
apartamentos de condomínios amplos e fechados.
Nada de pobrezas, nada de criadagem!
Mas, não é que lhe saiu na rifa um partido que era e é uma
confusão de todo o tamanho, tudo à mistura, letrados e iletrados, gente rica e
gente muito pobre, patrões e empregados, rurais e urbanos, operários e
engenheiros, doutores e mecânicos, enfim, saiu-lhe um partido de massas, de
trabalhadores e de toda a gente que gosta de T2’s, seja na Amadora ou em qualquer lado.
Que horror, tanta criadagem a misturar-se c’a gente, que mau
aspecto!E foi assim que, até hoje, nunca mais sublimou as suas enormes frustrações, que nunca mais deixou de andar danada com tudo e todos, com a vida!
Marinho Pinto
desenvolveu uma grave patologia desde pequenino, quando era assolado à noite por medos horríveis, por monstros disformes que não paravam de o perseguir.
Sonhou e sonha ainda que hoje vive cercado e perseguido por gente
«desonesta» e decidiu que haveria de dedicar-se à nobre missão de defender a
«honestidade» e combater contra a desonestidade.
Em nome da «honestidade», serviu-se de um partido que sempre
detestou, aproveitou-se da ingenuidade dos seus dirigentes e, sob a bandeira
desse partido, conseguiu iniciar a carreira de político profissional, carreira que,
aliás, demorou uma vida a combater, que sempre desprezou e que sempre reservou
para as inutilidades públicas.
Graças aos favores do MPT, entrou pela porta grande da
política e chegou ao cargo político de deputado europeu – tornou-se político
profissional.
Logo que se instalou, começou o seu combate pela
«honestidade» e arrancou com a saga contra as elevadas remunerações dos
deputados europeus, isto é, de si próprio; mas continuou a usar todas as
mordomias que simultaneamente dizia combater, nunca pensou que, em nome da
«honestidade», deveria abandonar, em sinal de protesto e em nome da honestidade,
o tacho que o MPT lhe tinha dado.
Concluido o golpe sobre a ingenuidade dos dirigentes,
começou a dizer mal do MPT mas não se foi embora, não ofereceu aos pobres as
malditas remunerações de deputado, não abandonou o privilégio de ser deputado
europeu eleito sob a marca e em lista do tal MPT.
Continuou serenamente, talvez como independente, como todos
os outros, os que são contra e os que se abstêm de comentar mas que são
honestos e leais aos partidos à sombra dos quais foram eleitos!
Agora, que começa a ficar rico com as criticadas mas nunca
prescindidas elevadas remunerações de deputado europeu, decidiu criar um
partido.
Um partido só seu … e em nome da «Honestidade».
Ora, ora, nem mais.
Tipicamente portuguesas estas figuras … muito honestas e
frontais, muito sensíveis para com os pobrezinhos.
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