Até quando?

... o primeiro grande problema é que o PSD precisa de uma direita coesa e forte mas o segundo é que a direita também precisa de um PSD vivo e confiável! Até quando?

segunda-feira, 16 de abril de 2007

É só Pagar e Emoldurar o Diploma

Há alguns anos, generalizou-se a ideia de que o grau de licenciatura
estava demasiado vulgarizado para constituir
prova de habilitação superior relevante.
O sistema educativo fomentou e autorizou
a abertura de uma infinidade de cursos superiores
em universidades de recente geração, simples institutos particulares
e escolas ditas superiores.


O ensino politécnico, relançado com a lei de bases do sistema educativo tão discutida em 1980, suicidou-se praticamente à nascença, devido aos preconceitos ao tempo ainda prevalecentes, de que a democratização do ensino impunha que nenhuma instituição de estudos superiores fosse limitada na oferta de graus académicos.
Se a sua vocação era formar técnicos especialistas de grau superior médio (bacharéis, engenheiros técnicos, etc) a verdade é que, mal se viram com o alvará e instalações, logo dirigiram as suas lutas para o reconhecimento de competências para administrar complementos dos cursos técnicos e, desse modo, oferecerem aos seus alunos habilitações do grau de licenciatura e, até, mestrado.
A filosofia que enformava a lei de bases apresentada e discutida nesses tempos orientava para um ensino politécnico, equipado com meios de práticas e laboratorios adequados, virado para a satisfação das necessidades imediatas do mercado, que formasse técnicos de elevada especialização, prontos para o exercício de uma profissão na vida activa nas empresas. Previa-se que uma boa parte destes alunos iniciasse a sua preparação no ensino secundário reestruturado, nos cursos da via profissionalizante dos 10º, 11º e 12º anos de escolaridade.
A ninguém era limitada a continuação de estudos, podendo os bacharéis atingir a licenciatura, mestrado e doutoramento em universidades públicas também reestruturadas.
Foram tempos difíceis, especialmente porque a demagogia de alguns e ambição de muitos logo rebuscaram das cinzas o velho preconceito de que se pretendia retornar à discriminação entre ensino para pobres e ensino para ricos.

O resultado foi o que se viu e Portugal voltou a estagnar por mais alguns anos.
Mas foram-se introduzindo alguns remendos. E de tal forma que se estabeleceu a maior confusão na oferta privada mas também pública de licenciaturas em tudo e mais alguma coisa, a maior parte delas não reconhecida por quem quer que fosse. Nem nas empresas nem no Estado sendo até frequente saber-se que raparigas empregadas de caixa em supermercados eram senhoras doutoras.
Esta situação criou problemas de prestígio académico e é então que se generaliza nas universidades portuguesas clássicas a ideia de que nenhum licenciado teria real estatuto superior se não incluisse no seu curriculum um mestrado ou uma post graduação.

Na actividade política e nos chamados círculos sociais, passada a fase da berraria e paulada, em que o mérito estava na coragem de enfrentar o inimigo e as habilitações se mediam pela quantidade de calos nas mãos e nível de consciência proletária, entrou-se na fase de avaliação pessoal pelo estatuto académico e social.
E formam-se tertúlias, reunem-se grupos com tentações elitistas e generalizam-se e reforçam-se as organizações maçónicas.
Toda a gente que queria ser alguém devia iniciar-se numa obediência e todas as obediências aumentavam a sua influência na medida do superior estatuto dos seus crentes.

Indispensável passou a ser ter ou parecer ter muito dinheiro e/ou um título académico, no mínimo uma licenciatura, sendo certo que o acesso aos graus superiores nas hierarquias seria sempre proporcional ao valor da riqueza (certa ou putativa) e ao nível da graduação académica.
As maçonarias portuguesas internacionalizam-se, criam e reforçam laços com as suas congéneres. E nenhuma obediência estrangeira digna desse nome deixa de ter uma universidade, uma escola de estudos superiores ou institutos de estudos superiores desta ou aquela fundação benemérita.
Desenvolve-se a cooperação e, para o que ora interessa, de forma particularmente activa no domínio do ensino universitário.
É, assim, que licenciados em universidades portuguesas aparecem graduados, mestres e Professores Doutores com formação em estabelecimentos de Paris, Bélgica, Espanha, Londres, Estados Unidos.

Mas havia aqueles que não tinham ainda habilitação básica suficiente para frequentar aquelas escolas. Tinham o curso geral das velhas escolas comercial ou industrial , o 5º ano do liceu ou algumas cadeiras do 7º ano do liceu.
Como a solidaridade tudo pode, com criatividade tudo se arranjou.
E foi fácil a muitos crentes iniciados prosseguir a sua actividade política em Portugal, matricular-se em universidade espanhola, francesa ou londrina, pagar as respectivas propinas, receber via postal um ou dois testes e remeter a resposta pela mesma via, enviar por correio ou fax o «trabalho» final, pagar o diploma e emoldurar o título. Tudo sem prejuizo de uma ou outra visita de cortesia ao professor e à universidade.
Depois, para o tal mestrado, as coisas ainda eram mais fáceis. Bastava exibir o certificado de licenciatura, comprar em Portugal a tese, de preferência traduzida, remetê-la para o professor responsável e pagar.

É claro que tudo isto é dinâmico.
E a própria maçonaria portuguesa evoluiu e se encarregou de criar as suas universidades privadas. E de adoptar os critérios e métodos, aprendidos com as congéneres irmãs, para empalhar em título de «chamar o olho» essa enorme multidão de novos-ricos e políticos que por aí circula na vulgaridade dos sem-título, frustrada pela desesperante espera de convite para o green dos ilustres.

Obviamente, tudo sem prejuizo da aceitação dos milhares de estudantes que, afastados das universidades estatais por falta de média, aproveitavam a abertura, pagavam elevadas propinas, frequentavam aulas e submetiam-se a exames, completamente alheados daquela promiscuidade e garantindo a viabilidade económica das instituições.

E em Portugal, as coisas até nem são difíceis.

O sistema de acesso ad hoc abre a porta, a transferência junta os amigos, o regime post laboral camufla as ausências, o sistema de equivalências torneia as dificuldades - a autonomia universitária define o melhor plano curricular. Tudo muito fácil e rápido. Desde que discreto.
Evita-se, assim, a sobrecarga dos serviços de correio e a tal viagem ao estrangeiro para a visita de cortesia. Basta um ou outro Fax.
O problema, como se vê no caso Sócrates, é que Portugal é muito pequeno. Estamos todos muito perto uns dos outros. E temos uma língua danada: tudo se sabe!

Quando é que um irmão fraterno se zanga (a sério) e bota a boca (a sério) no trombone?

Sem comentários: