Timor está demasiado longe, sob todos os pontos de vista. A informação que chega é imprecisa, às vezes contraditória e quase sempre confusa.
Notam-se sombras na descrição das situações, omissões, silêncios estranhos e uma enorme tentação de imputar factos a revoltosos que, curiosamente, antes dos acontecimentos, eram apoiados pelos representantes da soberania, as actuais duas vítimas principais, com quem mantinham contactos regulares.
Apesar de todas as aparências que chegam lá de longe, certo parece ser que o major Reinado não era perseguido pelas forças militares formais e afirmava-se, sem contraditório, o garante da ordem pública, o inimigo da imensa milícia informal e clandestina que, razoavelmente armada, povoa o território.
E não menos certo é que a Fretilin, de origens comunistas e organizada segundo o modelo pró soviético, não soube adaptar-se aos tempos e partiu-se em fracções de variadas lideranças.
Não sei porquê, mas sobem-me à memória velhos tempos, velhos golpes e contra golpes, velhas conspirações do famigerado processo revolucionário em curso.
A certa altura, havia em Portugal um grupo de militares, de vocação guerreira e grande coragem. Estavam comprometidos com a revolução democrática e eram chefiados pelo general Spínola.
Do lado oposto, havia uma tropa «fandanga», com muitas milícias à sua volta, que alinhava pelos padrões revolucionários que a União Soviética espalhara e tentara impor em todos os continentes, para travar a chamada democracia burguesa e implantar em Portugal uma plataforma comunista de infiltração no Ocidente e, em particular, em África. A liderança cabia ao PCP.
Eram incompatíveis os modelos e algum teria de ser eliminado.
E, de repente, as forças defensoras da democracia e do poder legitimado, em clima de nebulosos rumores, informação contraditória e imperceptível contra-informação, foram convocadas, não se sabe por quem, para se juntarem e combaterem o «golpe» ou a «matança» que estaria iminente.
Pegaram em armas, tomaram a ofensiva para defender a ameaçada democracia e acabaram «pendurados» porque nada se passava.
Era tudo, afinal, uma armadilha, bem montada, com televisão em directo.
E quem pretendia a estabilidade política e social lá ficou «decepado», com a fama de «os agressores», uns presos outros fugidos em Espanha. E a revolução comunista, libertada daqueles «impecilhos contra revolucionários e fascistas», iniciou a progressão de «avanços revolucionários» de cujas consequências ainda estamos longe de nos safar.
E a minha dúvida é só esta: se tudo estava bem encaminhado, quem convocou (e para defender o quê) o major Reinado? Quem ganha com o desaparecimento de Reinado, a inutilização de Ramos Horta e o isolamento de Xanana Gusmão?
Sem comentários:
Enviar um comentário