Foi uma visita discreta, quase anónima e claramente para cumprir calendário – um frete para António Costa que, sendo amigo dos seus amigos, não parece achar conveniente mostrar-se tão amigo como isso.
Como é sabido, apesar do esforço das nossas TV’s para decretar uma espécie de esquecimento geral, José Sócrates foi líder do PS durante uma década e durante o mesmo tempo primeiro ministro de Portugal.
E o resultado final das políticas e da prática política dos socialistas, isto é, da governação do PS sob a direcção de Sócrates, foi a falência de Portugal que entrou em bancarrota, e a condução à cadeia do próprio José Socrates, sob suspeita da prática de crimes de corrupção, durante o período em que era chefe do governo.
Contrastando com o actual líder, um dos fundadores do PS, Mário Soares, já visitou Sócrates duas vezes.
Mário Soares é conhecido também pela forma carinhosa como manifesta a sua compreensão por «amigos» que são apanhados nas malhas da corrupção ou que revelam tentações irresistíveis face à corrupção.
Agora, é a ternura com que encara a defesa política de José Sócrates mas, há vinte e dois anos, Soares foi confrontado com a condenação judicial em Itália de outro seu camarada e amigo, Bettino Craxi.
Tal como Sócrates em Portugal, Craxi foi líder do PS italiano e primeiro ministro de Itália durante cerca de uma década.
Em 1992 foi apanhado na guerra declarada pelas autoridades judiciais contra a corrupção em Itália e, na operação judicial «Mãos Limpas», Craxi foi descoberto e condenado pela prática de crimes de corrupção tendo, no entanto, fugido de Itália e, assim, escapado à prisão.
O fugitivo instalou-se na Tunísia onde, sempre como foragido da justiça, acabou por morrer.
E foi precisamente em 1995, em visita oficial à Tunísia, que, apesar de se encontrar na qualidade de Presidente da República portuguesa, Mário Soares se encontrou com o seu amigo Bettino Craxi, recebendo o corrupto italiano, condenado pelos tribunais mas foragido da justiça, nas instalações da embaixada de Portugal neste País.
Será, talvez, oportuno, para um enquadramento ajustado, recordar o dissidente fundador do PS, Rui Mateus, e o seu esclarecedor livro «Contos Proibidos – memórias de um PS desconhecido» que de forma tão clara e precisa relata a forma como se criam e desenvolvem as relações promíscuas no seio da família socialista, relações que, como é sabido, geram tentações irresistíveis e, geralmente, se tornam na antecâmara da corrupção.
Enfim, é a vida!
Como também faz parte da vida assistir ao deplorável papel, sem qualificação no plano ético e deontológico, desempenhado hoje pela TVI da dona Constança e do senhor Magalhães na defesa militante do arguido preso José Sócrates, suspeito da prática de crimes de corrupção enquanto primeiro ministro.
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