Até quando?

... o primeiro grande problema é que o PSD precisa de uma direita coesa e forte mas o segundo é que a direita também precisa de um PSD vivo e confiável! Até quando?

sábado, 11 de agosto de 2007

A Debandada de Paula Teixeira da Cruz

Paula Teixeira da Cruz provocou uma onda de indignação por esse PSD dos militantes.
Ela disse, sem equívocos, que se um dos dois candidatos ganhasse as eleições, as «élites» debandariam e o partido ficaria confinado a um pequeno e marginal sector do sistema político.
Querendo, com esta lamentável confabulação, apoiar Marques Mendes e rebentar com Filipe Menezes, Paula Teixeira da Cruz deu a machadada final na candidatura de Mendes e projectou Filipe Menezes para a Presidência do Partido.
Foi pena porque o PSD, com ganhos de monta,de bom grado prescindiria de um e do outro.
É certo que Paula Teixeira da Cruz é uma jovem adolescente enquanto militante do PSD.
Quando entrou já estava tudo estabilizado.
Mas ela é ainda presidente da distrital de Lisboa e o mínimo que dela se poderia esperar era que conhecesse a história do partido e a sua natureza.
Ao longo de 33 anos, quantas tentativas de «elitização» do partido não foram rechaçadas pela espontaneidade, inteligência e capacidade de intervenção dos militantes de base.
A essência sociológica do interclassissismo não é, no PSD, mera figura de retórica.
Ela contém o filtro que conforma o conceito, extremamente restritivo e nunca definitivo, de élite.
Por esse filtro não passam, só por si, o artificialismo, os apelidos, o culto das aparências e das modas, as poses e, muito menos, o novoriquismo empalhado em notas de mil e em cosmética.
Logo em 1974, ainda na sede emprestada do largo do Rato, alguns meninos ricos, os «bombazines» que se deslocavam em descapotável, imaginaram um PPD sem acção no terreno, amaneirado no discurso, a referência da modernidade fundada no trajo da moda e na repetição de citações das sociologias importadas à pressa.
E quem não se lembra dos desaires sucessivos dos chamados «pombas» ou «balsâmicos» que, sedeados no «corno de Cascais» (adaptação da expressão corno de África) se julgavam grupo de élite com a missão de proteger o partido-clube da influência crescente da boçalidade dos «falcões»?
E as inúmeras tentativas de criação de «tendências» ou «facções», uma social democrata e outra populista ou ruralista? E os inúmeros grupos que se foram constituindo e logo destituídos pelas massas? O grupo de Coimbra, quando provocou a dissidência de Aveiro, também julgou tornar o PSD uma sociedade recreativa, sem ideologia e sem pensadores e sem cultura. E as «Opções Inadiáveis» que se convenceram que, sem eles – as élites cerebrais – o PSD estava condenado à extinção pela estupidificação da remanescente «meia dúzia» de rurais e empregadotes de baixa condição. E o persistente Mário Soares que, quanto mais previa a exaustão do PPD mais dolorosas derrotas sofria do PSD, e os «eanistas», e Marcelo Rebelo de Sousa com as análises e suas moções venenosas, e o grupo de Lisboa com Marcelo, Júdice, Santana Lopes e Durão Barroso com a sua Nova Esperança … e tantos outros!
E já ninguém se lembra de quando Cavaco Silva era o «homem de Boliqueime» que jamais teria junto de si as élites, a «gente de qualidade», o filho do «povo» que vestia sem corte de marca, o iletrado que não conhecia Saramago, ignorava os intelectuais, jamais entrara em museu nem assistira a ópera ou concerto de música sinfónica, o vulgar campesino que subira a pulso mas continuava a comer com a boca cheia …
Quantas vezes não ouvimos e lemos que o PSD perdeu a «massa cinzenta» e «acaba» aqui.
… Tantos outros, tantas élites que debandaram, regressaram, mudaram de «camisola» … e o PSD sempre na mesma, a avançar, a recuar, a renovar-se, a adaptar-se aos tempos, a ganhar e a perder …!
Mas sempre aqui.
E bem vivo quando o País precisa!
Paula Teixeira da Cruz mostrou um conceito de élite, porventura à imagem e semelhança de si própria e dos que a acompanham.
Ela representa um (mais um) pequeno interregno na história do Partido.
Não coincide, seguramente, com a concepção do partido que sempre considerou com a devida importância as meras jarras para flores, as peças ornamentais que, por muito «boa figura» que façam, não deixam de ser rápida e facilmente substituídas quando se espatifam no tapete persa ou Arraiolos ou na carpete dos ciganos da Feira de Trancoso.
As élites do PSD distinguem-se pela sabedoria, livresca e/ou de experiência, a sua cultura é assimilada e exprime-se no comportamento quotidiano e não no circunstancialismo da exibição, representam o senso comum, são permanentes e presentes e raramente se dá conta delas.
Tal e qual como a velha sabedoria dos povos: pratica-se, transmite-se e vive-se, cada qual na sua Arte, todos iguais mas onde uns se distinguem mais pelas suas qualidades intrinsecas e por elas ganham responsabilidades acrescidas.
As élites estão e participam – não cirandam por aqui e por ali, atropelando tudo e todos, sempre à espera de encontrar, e não de fazer, qualquer coisa …

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