Marques Mendes tem uma enorme experiência da alta política.
Conhece bem os meandros, sabe como agradar para cima e conhece muito melhor todas as técnicas para passar ao largo das dificuldades.
Só as suas conveniências se sobrepõem às suas convicções.
E mesmo os seus mais fiéis não duvidam de que serão os primeiros a ser ignorados e esquecidos quando deixarem de lhe ser úteis ou se tornarem perturbadores da paz estabelecida.
É típico dos eternos «número dois».
Jamais deixarão de servir alguém. Alguém que represente Poder.
Marques Mendes é um dependente do poder.
E o poder que lhe parece conveniente está na Presidência da República, onde a conveniência manda que a potencial alternativa ao governo socialista se mantenha queda, titubeante e discreta.
Cavaco Silva, quando decidiu ser Presidente da República, percebeu que a concentração das atenções gerais em si próprio pressupunha o adormecimento e o esfrangalhamento do PSD.
Ora Marques Mendes sabe que Cavaco Silva quer um segundo mandato.
E a história repete-se.
Nenhuma instituição ou personalidade poderá dispersar as atenções gerais. E muito menos atraí-las.
É por isso que Marques Mendes jamais soltará o PSD, jamais o libertará para a acção política forte e mobilizadora, para uma oposição sistemática, atractiva e demolidora, para a reconquista da confiança dos eleitores.
Porque esse papel está reservado a Cavaco Silva e, como é conveniente, manter-se-á em banho-de-maria até ao momento próprio.
Importa, pois, entretanto, manter «tudo como está», isto é, preservar o pântano a que chamam estabilidade.
Porque Cavaco Silva não aceita partilhar o terreno. Detesta a competição e há-de querer aglutinar à sua volta toda a insatisfação e frustrações criadas pelas políticas socialistas.
Marques Mendes continuará a recusar organizar e exprimir a independência do partido e servirá Cavaco Silva … conservando o PSD, e a oposição potencialmente credível, no mesmo banho-de-maria.
Tudo em nome do segundo mandato!
Com as humilhações que se adivinham e o sacrifício do PSD.
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