Ouvi num daqueles pedagógicos programas da SIC, feitos por telefonemas a custo de «chamada com valor acrescentado» e onde muito aprendemos com tão bem expostas e fundamentadas análises políticas, financeiras e filosóficas, uma senhora, certamente especialista em economia e comunicação social, o seguinte: «eu vejo sempre a SIC mas acho que a privatização da RTP é um roubo deste governo que nos tira tudo, até nos rouba o sector público da comunicação social».
A senhora não usa a RTP … mas acha horrível que o governo lhe tire o que não vê nem usa e de nada lhe serve!
É este o tom das doutas análises acerca da entrevista do Prof. António Borges.
António Borges foi convidado para dar uma entrevista, isto é, para dar a sua opinião acerca do futuro de uma empresa que toda a gente qualifica de «o grande monstro sorvedouro de dinheiros públicos» ou «a maior gordura do Estado».
No uso da liberdade de expressão, a que tem direito como qualquer outro cidadão, deu a sua opinião e sempre foi informando que a sua opinião era apenas um dos «cenários em estudo».
Nunca falou em «decisão do governo» mas como a sua opinião não convém aos interesses de meia dúzia de parasitas do Estado, logo se levantou uma enorme campanha de injúrias contra ele e contra o governo, de manipulação, deformação do que foi dito, mistificações e falsidades.
Em poucos segundos vimos todos como a tal liberdade de expressão de pensamento, afinal, só serve para alguns e quando lhes convém – jamais para quem não pensa como eles e, sobretudo, se esse alguém for competente, decidido e tiver ideias claras e objectivas.
António Borges não falou de programas nem de informação – falou de uma empresa, gigante nos meios técnicos e humanos usados, superpovoada por gente sem tarefas que se acotovela pelos corredores e nas filas para os refeitórios e serviços sociais, uma gordura sem limites a pagar salários e cachets também sem limites, com estruturas e serviços totalmente desproporcionados, sem sinergias e a duplicar ou triplicar actividades, socialmente inútil, sem outro objectivo que não seja gastar em enormidades o dinheiro dos nossos impostos que, alás, muita falta fazem à sustentação do Estado Social que toda a gente reclama.
Ao fim e ao cabo, todos sabemos que o «monstro RTP é uma das mais notórias inutilidades públicas e António Borges, como economista e gestor de reputação internacional, limitou-se a dar a sua opinião acerca do modo de «desmantelar» a empresa para a tornar viável e útil e, simultaneamente, tornar transparente a concorrência no espectro televisivo do sector da comunicação social e libertar vultuosas verbas do Estado para, por exemplo, a saúde, a segurança social e a educação.
… E salvar o serviço público de comunicação social da actual degradação e futura extinção.
É com projectos destes que se organiza a intervenção social do Estado e se desfazem «as gorduras gordas»!
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