Que saudades me trouxe a Câmara de Lisboa!
Eram bons aqueles velhos tempos de combate permanente contra o comunismo e os comunistas.
Em 1974, 1975 e, também, 1976.
Acumulava duas grandes frentes de combate: na Universidade e no mundo do trabalho.
O instrumento privilegiado eram as RGT e as RGA, as famigeradas reuniões gerais de trabalhadores ou de estudantes.
Valia tudo, até a cadeirada.
Os comunistas eram particularmente persistentes e jamais desistiam.
Nós, os outros, apanhámos o jeito, e também não desarmávamos.
Votavam-se requerimentos e propostas, sempre de braço no ar.
E votava-se o mesmo tantas vezes quantas as necessárias para fazer valer o que interessava.
Afinal, todos estes anos depois, parece que as coisas não evoluíram tanto assim.
A Assembleia Municipal votou uma propostas que ficou aprovada e, portanto em vigor.
Mas eles esqueceram-se de olhar a lei e, depois de tamanhas discussões, a aprovação conseguida representava a reprovação dos objectivos pretendidos, por razões formais.
Sem problemas.
Convoca-se novamente a mesma Assembleia que, qual Reunião Geral de Deputados Municipais e à velha maneira, volta a votar a mesmíssima proposta que dias antes fora já votada e até aprovada.
E ganha mais votos com a conversão das consciências dos homens e mulheres do PSD.
Agora sim, o empréstimo tem dupla legitimidade: foi aprovado sucessivamente duas vezes, vale por dois.
Primeiro, votou-se e aprovou-se o que lei exigia que fosse votado e aprovado; logo a seguir votou-se e aprovou-se exactamente o que estava aprovado e em vigor.
Está bem, está tudo a condizer.
Baixar impostos não é o mesmo que subir os impostos? Aumentar o desemprego não é o mesmo que criar empregos? Congelar pensões de reforma não é o mesmo que proteger os reformados? As falências e a fuga de empresas não é o mesmo que o espectacular lançamento de novas empresas? A violência nas ruas, os assaltos e assassinatos a tiro e à bomba todos os dias não é o mesmo que a tranquilidade social e a baixa da criminalidade? Greves e manifestações não é o mesmo que a alegria do trabalho e a paz social? A miséria não é o maior sinal de progresso? Ter fome não é o mesmo que ter a barriga cheia … de fome?
Pobre País, pobre gente – como é triste ser «gozado» por inutilidades públicas empalhadas em bazófias!
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