Há um menino no governo que é um poço de ternura.
De ar cândido e voz macia, ele não deixa velhinhos sem amparo na travessia das ruas, não esquece o cigarrito e o guloso rebuçado de eucalipto que carinhosamente distribui nos bancos dos jardins e à entrada das igrejas.
E o sorriso meigo com que ilumina as faces rugosas ao aconchegar nas velhas costas o agasalho quente que, lesto e determinado, tira do saco de plástico que nunca esquece, não vá surgir o imprevisto!
A sua palavra é a crepitante fogueira que aquece a alma dos avôzinhos e a sua espalhafatosa energia é a vida que se solta das gargalhadas de esperança que inundam os lares da terceira idade que visita.
Ele é o neto de todos os avós.
É o anjo da guarda, atento e zeloso, é a carinhosa muralha que trava o tumulto, o choque e a violência das mudanças súbitas e desordenadas, as emoções fortes.
Aquele menino, que é do governo, lá para os lados da segurança social, salvou vidas, preveniu tromboses e enfartes.
Não fora ele, o que não seria por esses jardins e lares se, com a maior brutalidade, pagassem aos nossos velhinhos tudo o que o Estado lhes deve em retroactivos, tudo de uma vez só, assim bruscamente, sem carinho e sem um mínimo de sensibilidade!
Ah! Quem me dera ter tal neto, lá para as bandas das economias e das finanças, que me acarinhasse com as 14 suave prestações mensais do aumento de preço do pão, batatas e alfaces, da gasolina e do passe social, das taxas moderadoras, da luz e de tudo o resto!
O menino tem toda a razão.
Porque é que há-de vir tudo de uma vez?
Aumenta-se o pão 14 por cento?
Basta dividir 14 por 14 … é um por cento em cada mês!
Não era mais suave, carinhoso, mais simpático?
… E agarrava-se o padeiro que, se quisesse receber os 14 por cento do aumento, tinha de aguentar até ao fim do ano!
Como é bom ser velhinho em Portugal!!!
(Chega-me agora a notícia de que o ministro do menino anunciou que os retroactivos dos velhinhos vão ser pagos de uma vez só. Que falta de carinho! Que insensibilidade! Que brutalidade! Até parece comunista, ou coisa do diabo! ... Só nos faltava agora que este ministro sem coração despedisse o menino!? - Que grande confusão ... trapalhada maior, ainda não vi. Isto há gente capaz de tudo ... até de dar cabo dos nossos queridos avós, não é menino? ... Tudo de uma só vez!?)
1 comentário:
É assim que se governa um país? Tentando roubar os mais velhotes, e servindo de manobra de diversão, para desviar as atenções do que realmente importa para o país?
Desejo pensar que o pagamento a prestações, seja uma medida tomada por alguém que acordou mal disposto nesse dia e nunca uma proposta pensada e planeada no consenso do governo.
Enviar um comentário